A mineração vem adquirindo um papel cada vez mais central na economia mundial, fornecendo matérias-primas a setores de demanda exponencial para o desenvolvimento de novas tecnologias na área de energia e inteligência artificial, ou seja, para além da indústria de base, transportes, eletroeletrônicos e equipamentos hospitalares.
No contexto da geopolítica internacional, o setor ganha destaque na medida em que países e blocos econômicos buscam garantir a previsibilidade de sua fonte de suprimentos de matérias-primas minerais. E o Brasil se destaca nesse campo, sendo o quarto maior produtor mundial e quinto maior exportador de rochas. O país tem uma das maiores diversidades geológicas do mundo, com cerca de 1.200 materiais cadastrados e exportando para 127 países dos cinco continentes.
No entanto, o setor enfrenta uma série de desafios à sua integração em cadeias de valor global na busca por melhorias nas agendas de meio-ambiente e sustentabilidade. A atual legislação é um dos gargalos a ser superado, pois o Brasil ainda não entendeu o quanto a mineração é importante, razão pela qual ainda há uma série de entraves na legislação que dificultam a vida do setor, além da falta de crédito.
Na opinião de especialistas, é preciso alinhamento entre governo, produtores e a sociedade para mostrar que a mineração pode ser do tamanho da agricultura se receber o mesmo tratamento, com legislação, financiamento e vontade de fazer crescer.
Outro entrave é a falta de estrutura da agência reguladora do setor, que dispõe de recursos limitados para a gestão de recursos minerais. Segundo Mauro Sousa, diretor-geral da Agência Nacional de Mineração (ANM), a autarquia está presente em 89% dos municípios brasileiros e possui diversas competências dentre as atividades de fiscalização, arrecadação e regulamentação, cujo escopo vem sendo ampliado pela legislação.
Transição de modelo
A articulação entre os polos da sustentabilidade e a garantia de suprimento de bens minerais são questões estratégicas nesse caso. O setor tem feito seu dever de casa com a transição de um modelo linear de produção e consumo para outro circular, no qual os materiais são reutilizados, reciclados e reintroduzidos na cadeia produtiva. Muitas indústrias de rochas ornamentais reaproveitam mais de 95% da água utilizada no processo produtivo.
Além disso, os resíduos da produção são reaproveitados ou destinados para depósitos licenciados, e a taxa de emissão de CO2 na produção de rochas é a mais baixa em relação às outras opções de revestimentos usados em projetos de arquitetura.
Apesar dos desafios que a mineração enfrenta, são inegáveis as oportunidades do Brasil como grande player mundial do setor. A transição global para uma economia de baixo carbono e a demanda crescente por metais e minerais essenciais para a tecnologia verde, como o grafite, o cobre, o níquel, o lítio e terras raras (minérios que têm esse nome devido a sua difícil extração) oferecem condições ímpares ao país, de impulsionar o crescimento econômico, criar empregos e contribuir para uma sociedade sustentável.