Maranhão é estado promissor na área de não metálicos.

A falta de investimentos em mineração é um entrave para que o setor se desenvolva no Maranhão. A afirmação é do engenheiro de minas e empresário José Fernando Tajra Reis, que acredita no potencial do subsolo maranhense, do qual apenas 10% é explorado. Para o engenheiro, o estado é promissor, mas diversos fatores ainda precisam ser avaliados para que os resultados sejam otimizados. Ele diz que estudos nessa área seriam essenciais para alavancar a produção no futuro.

“Nada foi feito nas duas últimas décadas e não há estudos para expandir investimentos. Além disso, é preciso agilidade dos órgãos reguladores da atividade, bem como dos processos de licenciamento ambiental, que geralmente são demorados”, frisa o engenheiro, especialista em auditoria e perícia ambiental.

Ano passado, por exemplo, o estado produziu mais de 61 mil toneladas de argila e mais de 88 mil de calcário. A produção de gipsita superou 88 mil toneladas e a de brita alcançou 1.337.720t. Esse resultado, no entanto, poderia ser bem mais satisfatório.

Conforme Fernando Tajra, apesar dos entraves, há expectativa de crescimento, principalmente depois da pandemia no novo coronavírus. Ele citou como exemplos o calcário e a gipsita. “Investimentos relativos a esses minerais devem crescer devido ao aumento da demanda por seu uso na agricultura, como fertilizantes e corretivos de solo, o que será de grande valia para o agronegócio na região sul do estado. Acredito que esse crescimento daqui para frente poderá variar de 10% a 20% ao ano”, prospecta.

Expansão vertical

Outros produtos que poderão experimentar expansão vertical são o calcário marinho e as argilas especiais. O calcário ou lithothamnium é extraído do mar e já existe unidade extrativa funcionando no município de Tutóia. “Trata-se de fertilizante natural que, misturado aos químicos, numa proporção de 25% a 30%, aumenta a produtividade da soja em até 40%. Há projetos dessa envergadura na região sul do Maranhão em andamento, aguardando licenciamento ambiental”, informa.

Ele também destaca as argilas especiais, abundantes na região central do Maranhão e que serão viabilizadas com a descoberta de gás, que facilita sua queima. Com relação às pedreiras, que produzem agregados graúdos para a construção civil, Fernando Tajra frisa que sua expansão deverá acontecer nos próprios locais onde há projetos implantados atualmente, devido à inexistência de informações sobre a ocorrência de outras jazidas.

Tajra analisa que a pandemia interferiu no setor, uma vez que não houve instalação de novas unidades nos últimos dois anos. “Todo mundo aguardou para ver o que ia acontecer e se segurou. Logo, ninguém teve coragem de investir. Mas o crescimento está voltando. E as unidades estão vendendo tudo que produzem”, resume.

Primórdios

A mineração no Maranhão, conforme o engenheiro, é uma realidade desde os anos 1800, com a descoberta de ouro na região noroeste (englobando Carutapera, Cândido Mendes, Centro do Guilherme, entre outros municípios), onde o Barão de Mauá, associado a imigrantes ingleses, detinha uma mina batizada de “Montes Altos”. Ainda hoje há reminiscências dessa época.

De acordo com Fernando Tajra, com o passar do tempo, os projetos de exploração de ouro foram expandidos, mas de maneira bastante rudimentar e sem nenhum cuidado ambiental. “Essa região aurícula naquela geografia do Maranhão está sendo explorada, atualmente, por uma multinacional canadense, que produz em larga escala. Outros projetos estão em vias de implantação, mas com dificuldades de obtenção de licenças ambientais, esbarrando, também, na questão da posse da terra e na disputa com garimpos ilegais”, finaliza.

Resultados no Brasil

Em nível nacional, a produção comercializada do setor mineral alcançou 227 milhões de toneladas no primeiro trimestre deste ano, com aumento de 15% na comparação com o mesmo período de 2020. De janeiro a março de 2021, o setor faturou R$ 70 bilhões, o que representa alta de 95% frente aos R$ 36 bilhões obtidos no primeiro trimestre do ano passado. Os dados são do Instituto Brasileiro de Mineração, entidade que reúne as maiores mineradoras que atuam no Brasil.

Três fatores explicariam o bom desempenho do setor em nível nacional, mesmo em meio à pandemia de Covid-19. As principais razões seriam o crescimento da China, a alta dos preços no mercado internacional e a desvalorização do real. As exportações de minérios, em dólar, aumentaram 102%. A moeda norte-americana era cotada em março deste ano a R$ 5,65. No terceiro mês de 2020, valia R$ 4,88.

Ao mesmo tempo, o preço médio da tonelada de minério de ferro teve variação de 87,6% na comparação com o primeiro trimestre deste ano e do ano passado. O Brasil é, depois da Austrália, o maior produtor mundial dessa comodity. O minério de ferro respondeu por 70% do faturamento total do setor mineral brasileiro de janeiro a março deste ano. Em seguida, aparecem o ouro, que respondeu por 11%, o cobre, por 5%, e a bauxita, por 2%.

No recorte por estados, Pará e Minas Gerais, que concentram a maior fatia da produção do país, registraram os melhores resultados. Em Minas, o faturamento, de R$ 28 bilhões, representa alta de 118% e, no Pará, que alcançou R$ 31 bilhões, aumentou 94%, Os estados da Bahia, com R$ 2 bilhões, e de Mato Grosso, com R$ 1,4 bilhão, embora com produções mais modestas, também tiveram crescimento acima de 90%.

No total, 92 projetos integram o portfólio das mineradoras para receber aportes no total aproximado de US$ 38 bilhões entre 2021 e 2025. São empreendimentos minerários que contribuirão para movimentar a economia a longo prazo em 81 municípios de estados variados. Bahia, Pará e Minas Gerais concentram 52 dos 92 projetos.

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